Mas, quis o destino que, como neurocirurgião, tivesse uma carreira ainda mais desafiadora, com a missão de salvar vidas. Com isso, viajou pelo mundo e recebeu vários prêmios e distinções pelo desempenho profissional, em âmbito estadual, nacional e latino americano.

Casado há quase 60 anos com a dona Jair, teve três filhos. Ricardo que seguiu a carreira de neurocirurgião, médico brilhante que trouxe técnicas inovadoras para santa Maria. Infelizmente, despediu-se da vida precocemente. Daniela, que se especializou em neurorradiologia aqui em santa Maria, e a caçula Michele, advogada, casada com Cássio Fernandez, defensor público. Tem três netos, Mariana, 27 anos, filha de Daniela, faz doutorado em Bioinformática na Universidade de Munique, na Alemanha, Arthur, 9 e a Lara de 6 anos, filhos de Michele.

A APOSENTADORIA

Com 55 anos de profissão e tendo realizado mais de 20 mil cirurgias, o Dr. Enedir resolveu encerrar a grandiosa carreira profissional. Ele fez a última cirurgia no dia 13 de março de 2019, instalando um gerador e um eletrodo epidural, na coluna vertebral, para o tratamento da dor crônica.

Prestes a completar 79 anos, o Dr. Enedir recebeu a Revista Interativa em sua residência para uma entrevista exclusiva.

Quais foram as cirurgias mais desafiantes?

Dr. Enedir – As cirurgias de hematoma extradural, pois a pessoa está bem e sofre um traumatismo crânioencefálico, no qual rompe uma artéria, geralmente a meníngea. A partir do acidente, a vítima pode ter tonturas de 2 a 3 minutos, alguma inconsciência e depois de cerca de 4 horas, apresentar coma e pupilas dilatadas. Se a pressão do crânio não for retirada e o hematoma removido, poderá haver uma morte cerebral em menos de 15 minutos.

Quais cirurgias que mais realizou?

Dr. Enedir – As cirurgias que mais realizei foram as cranianas e de coluna, patologias cranianas e raquimedulares. As intervenções que mais gostei de fazer foram os meningiomas (tumores benignos), intracranianos e intraraquianos.

Como o Dr. vê o avanço das cirurgias neurológicas nestes 55 anos?

Dr. Enedir – É espantosa a evolução da microneurocirurgia craniana e intraraquiana. Hoje, opera-se com microscópio de extrema precisão, prevenindo complicações intra operatórias e realizando o procedimento de forma mais rápida e eficaz. No diagnóstico, a evolução também foi muito importante. A neurocirurgia é uma especialidade de alto risco e mortalidade elevada, com pacientes graves e urgentes. Nas décadas de 60 e 70 eu era o único neurocirurgião da cidade, nessa época, o HCAA tinha convênio com o INSS e a área de abrangência era em toda região Central até a fronteira, em Uruguaiana. Os pacientes eram recebidos no pronto socorro e, se cirúrgicos, encaminhado à sala 3 do bloco cirúrgico, pois era a única sala que tinha RX. O avanço tecnológico começou com a tomografia computadorizada do crânio e atualmente contamos com a ressonância de encéfalo, spect cerebral e angiografia cerebral em 3D. A constante atualização médica sempre foi uma constante na minha vida profissional, bem como a compra dos melhores materiais e equipamentos. Também sempre fui muito disponível para todos os pacientes. Conhecimento e tecnologia sempre foram meus objetivos. Por exemplo, a endoscopia intracraniana foi a pioneira no Estado, trazida dos Estados Unidos, pelo Ricardo e eu, e a embolização de aneurismas, também pioneira no interior do estado trazida pela Daniela e eu.

O Dr. Enedir viveu para o trabalho. Sempre esteve à disposição e vestido impecavelmente de terno, sua marca registrada no hospital. “Em neurologia e neurocirurgia temos patologias com risco evolutivo muito rápido. Em 5 minutos, podemos perder o paciente que pode evoluir para morte cerebral e/ou para cardio-respiratória, meu tempo recorde que cheguei ao Hospital de Caridade foi 3 minutos”, lembra.

Dentre tantos fatos curiosos, qual foi histórico?

Dr. Enedir – Numa ocasião, me chamaram no hospital para atender uma mulher com uma faca na cabeça, bem no meio do crânio, 10 cm para dentro. A paciente não fez infecção, não sangrou e não fez fístula. Após a cirurgia, não ficou com nenhuma sequela, um caso curioso.

Quais foram suas inspirações?

Dr. Enedir – Decidi fazer neurocirurgia no terceiro ano de Medicina, quando fui monitor de anatomia. Estudei muito o cérebro, e acabei me influenciando. Já, em Porto Alegre, O Dr. Paglioli inspirou-me muito, ele foi o fundador do Instituto Eliseu Paglioli, que trouxe a Neurocirurgia para o Rio Grande do Sul, fui seu instrumentador e auxiliar, acompanhando mais de 370 cirurgias na residência de neurocirurgia.

Como lidou com tanta adrenalina e pressão?

Dr. Enedir – A vida sempre foi o mais importante. Em função da vida dos outros, eu deixei os filhos, a esposa, e reconheço que a Jair é uma Santa. Conheci a Jair quando era estudante do Colégio Santana e, anos depois, foi professora de inglês na mesma instituição de ensino. Ela foi o esteio dos filhos, da casa e da organização da vida financeira. Já são quase 60 anos juntos e sempre consegui separar os problemas profissionais e a vida pessoal.

Como será esta nova fase da sua vida?

Dr. Enedir – O que eu tinha para fazer eu já fiz. Sei que Santa Maria não está desassistida em cirurgias e diagnósticos. A partir de agora vou cuidar de mim, escrever um livro, me dedicar à família, aos netos e amigos.

Matéria exclusiva da Revista Interativa, de Santa Maria, com entrevista realizada pela diretora-proprietária Silvana Maldaner que gentilmente cedeu a reportagem ao Blog Rafael Nemitz. A Revista Interativa tem 18 anos, circula em Santa Maria e Alegrete, mas possui assinantes em várias cidades.

Siga a revista no Facebook CLICANDO AQUI e pelo site http://www.revistainterativa.org.