Pobreza mestrual e os impactos na saúde das mulheres! Postado quinta-feira, 10 de março de 2022 ás 23:14
Uma em cada 4 adolescentes no Brasil não tem acesso a absorvente durante o período menstrual e quase 30% das mulheres jovens já deixaram de ir às aulas por isso
"Não uso mais absorventes. Para comprar, era muito difícil. Então, quando fui buscar métodos para não engravidar, aproveitei para não menstruar''. O relato é da jovem Yasmin Emiliano, de 24 anos, moradora de ocupação no Centro de Belo Horizonte, mãe de dois filhos, um de 9 meses e outro de 2 anos, e que vive com renda obtida com a venda de balas e bombons. Yasmin optou pela injeção hormonal depois de passar períodos difíceis desde a sua primeira menstruação, aos 10 anos. "Eu já sofri com a situação de menstruar e não ter dinheiro para comprar o absorvente. E a vergonha de falar?''
Falar de menstruação ainda é um tabu na nossa sociedade. A maioria das mulheres tem vergonha de discutir sobre um processo natural. Isso porque temas relacionados ao corpo feminino são repletos de desinformação e estigmas.
Pobreza ou precariedade menstrual é o nome dado à falta de acesso de meninas, mulheres e homens trans a produtos básicos para manter uma boa higiene no período da menstruação. Não se restringe só à falta de dinheiro para comprar absorventes. Tem relação também com a ausência ou precariedade de infraestrutura no ambiente onde vivem, como banheiros, água e saneamento.
Direito universal garantido pela ONU
A higiene menstrual é um direito humano reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2014, mas está longe de ser uma realidade. "Já fiquei sem (absorvente), coloquei papel higiênico. Muitas vezes eu ficava em casa para não usar nada e já aconteceu até de ficar sem papel higiênico. Uma situação bem complicada'', comentou Yasmin.
Ela contou que percebeu a cadeira suja ao levantar para ir ao recreio. "O bom é que eu tinha o costume de usar blusa de frio. E eu amarrei. E a vergonha de falar para os outros que eu estava menstruada? Vergonha de chegar na coordenação e dizer que estou menstruada e que estava vazando. Então, eu fiquei vazando o dia todo".
Miolo de pão, panos velhos, folhas de jornais...
Faltar ao trabalho, perder aulas ou ser obrigada a usar métodos alternativos que colocam a saúde em risco. Miolo de pão, panos velhos, folhas de jornais são alguns dos materiais usados por mulheres em situação de vulnerabilidade como alternativa à falta de acesso ao absorvente. Outras, que até conseguem comparar o absorvente ou ganhar em uma quantidade não suficiente para o fluxo, acabam precisando ficar horas ou dias com o mesmo absorvente.
O problema é antigo, porém o tema voltou à tona depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se colocou contra a promoção da saúde das mulheres e vetou o Programa de Fornecimento de Absorventes Higiênicos . O presidente vetou cinco trechos do Projeto de Lei 4968/2019, de autoria da deputada federal Marília Arraes (PT-PE), que previa a distribuição gratuita de absorventes higiênicos, além da oferta de cuidados básicos de saúde menstrual em escolas públicas de ensino médio e de anos finais do ensino fundamental. A atitude do presidente gerou uma onda de críticas.
Nesta quinta, o Senado derrubou o veto do presidente Bolsonaro. CLIQUE AQUI para ler.
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